A
CoronaVac, potencial vacina contra a Covid-19 do laboratório chinês Sinovac,
tem eficácia de 100% na prevenção de casos graves da doença tanto em jovens
quanto em idosos, informou nesta quinta-feira o Instituto Butantan, responsável
pelos testes clínicos com a vacina no Brasil.
Os
resultados dos testes clínicos em Fase 3 com a vacina foram anunciados em
entrevista coletiva na sede do instituto, na zona oeste de São Paulo. A
CoronaVac teve eficácia geral de 78% contra a Covid-19, de acordo com os
números apresentados, e de 100% para evitar casos graves, moderados e
internações hospitalares causadas pela doença, que já matou quase 200 mil
pessoas no Brasil, segundo país com maior número de mortos pelo coronavírus,
atrás apenas dos Estados Unidos.
“A
vacina protegeu 100% com relação a casos graves de Covid-19. Não só, protegeu
também 100% contra casos moderados de Covid-19”, disse o presidente do
Butantan, Dimas Covas, na entrevista.
“A
internação hospitalar foi evitada. Nenhum voluntário que recebeu a vacina foi
internado, 100% de eficácia. A pessoa pode até se infectar, mas nós queremos
que essa pessoa não progrida com essa doença, que essa pessoa não fique mais
grave e que essa pessoa não tenha que ir para o hospital e fique internada.”
Covas
lembrou que o estudo clínico da CoronaVac, feito com 12.476 profissionais de
saúde até o momento, incluiu pessoas idosas e que, com isso, é possível afirmar
que a vacina mostrou-se 100% eficaz também na prevenção de casos graves de
Covid-19 em idosos. Não foi informada a proporção de idosos no estudo.
“A
eficácia para proteção contra casos graves se aplica tanto aos mais jovens como
aos idosos. Não há nesse momento nenhuma diferença observada”, disse o
presidente do Butantan.
O
instituto já havia informado que a CoronaVac mostrou-se segura durante os
testes, sem provocar efeitos colaterais graves. De acordo com o Butantan, a
vacina provocou apenas, e somente em alguns casos, efeitos leves e esperados em
qualquer vacinação, como febre baixa e dor no local da aplicação.
Covas
afirmou ainda que representantes do Butantan fizeram uma reunião inicial com a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta como parte de um
protocolo para a apresentação do pedido para uso emergencial da vacina junto à
agência. Ele espera que o pedido seja formalizado até a sexta-feira e a Anvisa
informou que fará uma nova reunião com o Butantan às 18h desta quinta.
Uma
vez apresentado o pedido para uso emergencial, a Anvisa afirma que o analisará
em 10 dias.
Já
o pedido de registro definitivo do imunizante deverá ser feito pela Sinovac, na
China, e, com isso, em conjunto entre o laboratório chinês e o Butantan no
Brasil. Não foi dado um prazo para o pedido definitivo.
Na
avaliação de Cristina Bonorino, integrante do Comitê Científico da Sociedade
Brasileira de Imunologia, seria importante ter acesso aos dados do estudo
clínico em detalhe. Ela disse, ao mesmo tempo, que, confirmados os dados
anunciados, trata-se de um resultado “excelente”.
“Eu
acho que o mais importante é que a gente confirme se são realmente esses os
dados. Uma coisa são os dados apresentados na entrevista, outra coisa é quando
a gente pega os dados e reanalisa eles, porque é isso que o comitê da Anvisa
faz”, disse.
“Se
é isso mesmo, é um excelente resultado. E não tem que comparar esses 78% com a
vacina da Pfizer, porque a gente não tem a vacina da Pfizer, essa é a única que
a gente tem, então está maravilhoso”, disse em referência à vacina desenvolvida
em parceria entre a norte-americana Pfizer e a alemã BioNTech, que apresentou
eficácia de 95%.
Indagado
durante a coletiva sobre dados mais detalhados do estudo clínico com a
CoronaVac, Covas afirmou que o relatório com os resultados será entregue à
Anvisa e publicado em revistas científicas, mas que não iria detalhá-los na
entrevista.
Ele
afirmou, no entanto, que dos voluntários do estudo, 218 contraíram Covid-19 e,
desse total, “cento e sessenta e alguma coisa” tomaram placebo e “pouco menos
de 60” receberam a vacina.
INTERVALO
ENTRE DOSES
Covas
explicou que o plano inicial de vacinação definido pelas autoridades de saúde
de São Paulo prevê um intervalo de 14 dias entre as aplicações da primeira e da
segunda doses da CoronaVac, mas que as autoridades de saúde estudam ampliar o
intervalo para 28 dias para aumentar a cobertura inicial de vacinação na
população. Segundo ele, o intervalo previsto pode variar entre esses dois
prazos.
Ele
defendeu ainda que a vacinação comece rapidamente.
“É
uma excelente vacina para o momento. Precisamos que ela chegue ao braço das
pessoas. Precisamos que ela seja aplicada nos profissionais de saúde e nos
idosos, na primeira fase do programa, o mais rapidamente”, disse.
O
Butantan já tem em solo brasileiro 10,8 milhões de doses da CoronaVac. A
expectativa do instituto é chegar a 46 milhões de doses até meados de fevereiro
e 100 milhões em maio.
Também
presente na entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB),
reiterou que a vacinação com a CoronaVac começará no Estado no dia 25 de
janeiro.
O
ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em pronunciamento na quarta-feira em rede
nacional de rádio e TV, citou a CoronaVac entre os imunizantes que estarão no
Programa Nacional de Imunização e previu o início da vacinação para este mês.
A
CoronaVac tem sido nos últimos meses o cerne de uma disputa política entre
Doria e o presidente Jair Bolsonaro.
De
um lado o governador paulista tem na vacina um trunfo em uma possível
candidatura á Presidência em 2022 e aproveita as frequentes entrevistas para
criticar a forma como Bolsonaro lida com a pandemia.
Do
outro, Bolsonaro, que minimiza a Covid-19 e já afirmou que não se vacinará
contra a doença --que tanto ele como Doria já contraíram--, criticou
recentemente a vacina da Sinovac, afirmando que ela não transmitiria segurança
à população por ter origem na China.
OUTRAS
VACINAS
Dois
imunizantes que já apresentaram resultados de testes em Fase 3 registraram uma
eficácia superior à registrada pela CoronaVac nos testes feitos no Brasil.
A
vacina desenvolvida em conjunto entre a norte-americana Pfizer e a alemã
BioNTech mostrou eficácia de 95% nos estudos de Fase 3 e já está sendo aplicada
em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.
O
imunizante da Moderna indicou ser 94% eficaz na prevenção da doença.
Já
a vacina da AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino
Unido, mostrou eficácia média de 70,4%, em uma análise combinada de dados
preliminares de estudos de estágio final.
Durante
a coletiva desta quinta, Covas afirmou que o fato de a CoronaVac ter sido
testada somente em profissionais de saúde que atuam na linha de frente do
combate à Covid-19 faz dela a vacina que, nas palavras do presidente do
Butantan, passou “pela prova mais dura no mundo” para um imunizante contra o
coronavírus.
A
CoronaVac usa a tecnologia de vírus inativado --em que um vírus morto ou
pedaços do vírus são injetados na pessoa para provocar uma resposta imune. Esse
modelo de vacina já é fabricado pelo Butantan para a prevenção de outras
doenças.
As
vacinas Pfizer/BioNTech e da Moderna usam a tecnologia de RNA mensageiro, ao
passo que o imunizante AstraZeneca/Oxford usa o mecanismo de vetor viral, em
que um adenovírus incapaz de causar infecção em humanos é geneticamente
alterado para incluir pedaços do coronavírus e gerar uma resposta imune.
O
governo federal tem um acordo para a compra, transferência de tecnologia e
futura produção local da vacina da AstraZeneca. O Ministério da Saúde mantém
tratativas para compra de doses da vacina da Pfizer.
No
caso da CoronaVac, o acordo do Butantan prevê também a transferência de
tecnologia para a produção integral da CoronaVac no Brasil em uma nova fábrica
do instituto cuja previsão de conclusão é setembro de 2021.
(Reuters)
Quinta-feira,
07 de janeiro, 2021 ás 22:00