A cinco meses das convenções
partidárias, que definem as candidaturas das legendas, os principais
presidenciáveis da “terceira via” enfrentam resistência de suas respectivas
bancadas no Congresso. Parlamentares das siglas dos ex-ministros Sérgio Moro
(Podemos) e Ciro Gomes (PDT) e do governador João Doria (PSDB) avaliam que as candidaturas
ao Palácio do Planalto vão drenar recursos do fundo eleitoral em uma disputa
polarizada entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT).
Diante desse cenário, no qual
os nomes do centro político ainda não alcançaram dois dígitos nas pesquisas de
intenção de voto, congressistas do Podemos, do PDT e do PSDB pressionam o
comando das legendas a reduzir o valor do fundo eleitoral destinado às campanhas
ao Planalto e a aumentar os recursos para as disputas na Câmara. No MDB, que
lançou a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência, o debate
interno não começou oficialmente e deve ficar para junho. Mas prevalece na
legenda a tese de que a prioridade neste ano será eleger o maior número de
deputados federais. Se Simone Tebet permanecer estacionada nas pesquisas, a
candidatura não será confirmada na convenção.
O custeio da campanha de Moro
também ganhou contornos de crise. A bancada do Podemos reivindica prioridade
sobre os R$ 228,9 milhões do fundo para as disputas à Câmara, sob o argumento
de que, sem recursos, candidatos a deputado podem ser derrotados nas urnas e a
sigla corre o risco de não sobreviver. Este ano, a cláusula de barreira
estabelece que os partidos devem obter um mínimo de 2% dos votos válidos para a
Câmara, ou eleger ao menos 11 deputados em nove Estados. O Podemos tem 11
deputados federais e acesso a um fundo eleitoral menor que o de concorrentes
como PL, PT, PSDB, MDB e PDT. O tamanho da bancada também tem impacto no tempo
de propaganda de rádio e TV.
‘Cobertor curto’
Líder do Podemos na Câmara, o
deputado Igor Timo (MG) disse que não faz sentido focar os recursos do partido
na campanha presidencial em detrimento da eleição no Congresso. “A gente sabe
que é um cobertor curto. Não tem como fazer mágica, mas não adianta também
custear integralmente uma campanha presidencial e o partido deixar de existir.
Se não tiver deputado, como vai se manter?”, questionou.
A possibilidade de Moro deixar
o Podemos e migrar para o União Brasil vem sendo discutida, mas enfrenta
dificuldades. A legenda que será resultado da fusão PSL-DEM resiste à ideia de
dividir com a campanha presidencial recursos que seriam para candidaturas à Câmara.
Tucanos
No PSDB, a disputa por
dinheiro do fundo eleitoral deve levar a uma debandada de parlamentares. Pelos
cálculos de líderes tucanos, entre 6 e 10 dos 32 deputados devem deixar a
sigla. Pressionado, o presidente do partido, Bruno Araújo, que também é
coordenador da pré-campanha de Doria, promoveu ontem uma reunião da Executiva
para tratar do tema. Ficou definido que no próximo dia 15 será apresentado um
“plano de investimento”.
“O PSDB não vai entrar em
leilão. Quem ficar no partido será por convicção”, disse o tesoureiro da
legenda, César Gontijo. Os tucanos devem receber R$ 314 milhões para dividir
entre seus candidatos deste ano. Em 2018, quando o então candidato à
Presidência, Geraldo Alckmin, conseguiu apoio dos partidos do Centrão e era visto
como competitivo, o PSDB recebeu R$ 210 milhões. A campanha presidencial ficou
com 1/4 deste valor. A meta era fazer 60 deputados, mas o partido elegeu pouco
mais da metade.
Divergência
No PDT, parte da bancada
sustenta o discurso de apoio à disputa nacional e diz que o nome de Ciro pode
alavancar candidaturas nos Estados. Mas outra ala contesta a divisão dos fundos
eleitoral e partidário com uma candidatura própria à Presidência.
Parlamentares pedetistas
ouvidos pela reportagem disseram que há um questionamento sobre a divisão da
verba. A ideia é que candidatos ao Congresso fiquem com uma fatia de 1/3 dos
recursos (cerca de R$ 100 milhões). Procurado, o presidente da sigla, Carlos
Lupi, não quis se manifestar.
*Estadão
Terça-feira, 08 de fevereiro 2022
às 14:22