A
pandemia de covid-19 contribuiu para o agravamento da fome em todo o mundo. É o
que aponta o relatório anual O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no
Mundo, divulgado hoje (12) pela Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO). De acordo com o estudo, em 2020, entre 720
milhões e 811 milhões de pessoas passaram fome em todo o mundo. Segundo o
documento, desse total, mais de 118 milhões de pessoas começaram a passar fome
no ano passado em razão da pandemia.
O
relatório informa que, entre as pessoas que começaram a passar fome no ano
passado, 14 milhões vivem na América Latina e no Caribe. Na África, o número
dos que começaram a passar fome aumentou em 46 milhões em relação ao observado
em 2019. Na Ásia, foram 57 milhões de pessoas a mais em comparação com o
apurado em 2019.
O
combate à desnutrição e à má nutrição, em todas as suas formas, continua sendo
um desafio, diz o estudo da FAO, ao informar que, em todo o mundo, cerca de 30%
das mulheres de 15 a 49 anos padecem de anemia e que a maioria das crianças
desnutridas com menos de 5 anos vive na África e na Ásia. Essas regiões são o
lar de nove em cada 10 crianças com atraso de crescimento, nove em cada 10 com
peso abaixo do previsto para a idade e de sete em cada 10 com excesso de peso.
A maioria das crianças desnutridas vive em países afetados por múltiplos
fatores, como conflitos internos, desastres ambientais, crises econômicas,
destaca o relatório.
O
estudo da FAO ressalta ainda que o número de pessoas subalimentadas está
aumentando, o progresso em relação ao atraso do crescimento infantil diminuiu e
o sobrepeso e a obesidade em adultos aumentaram tanto nos países ricos quanto
nos países pobres. O documento diz também que a situação poderia ter sido pior
se diversos países não tivessem adotado medidas de proteção social, como o
pagamento de auxílio emergencial.
“O
efeito da pandemia covid-19 em 2020 ainda não pode ser totalmente quantificado,
mas estamos preocupados que muitos milhões de crianças menores de 5 anos tenham
sido afetadas por nanismo (149,2 milhões), definhamento (45,4 milhões) ou acima
de peso (38,9 milhões). A desnutrição infantil continua a ser um problema,
especialmente na África e na Ásia. A obesidade em adultos continua a aumentar,
sem sinais de mudança de tendência global ou regional”, diz o documento da FAO.
De acordo com o relatório, o esforço para erradicar a desnutrição em todas as
suas formas foi prejudicado, inclusive em razão dos efeitos negativos sobre os
hábitos alimentares durante a pandemia.
“Em
termos de saúde, a interação entre a pandemia, a obesidade e as doenças não
transmissíveis relacionadas à alimentação mostrou que é urgente garantir o
acesso a dietas saudáveis e acessíveis para todos”, diz o relatório.
Elaborado
em conjunto com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa Alimentar Mundial (PAM) e
a Organização Mundial da Saúde (OMS), o documento alerta ainda para o fato de
que, com base na tendência atual, o mundo não deve cumprir a meta de acabar com
a fome até 2030. De acordo o relatório, a fome mundial diminuirá lentamente
para menos de 660 milhões em 2030. O número, entretanto, é superior em 30
milhões a mais de pessoas do que o esperado até 2030, o que aponta para a
existência de efeitos duradouros da pandemia na segurança alimentar do mundo.
Para
combater esse cenário, a FAO diz que os governos devem, entre outros pontos,
fortalecer a capacidade econômica das populações mais vulneráveis; promover
intervenções ao longo das cadeias de abastecimento de alimentos para reduzir o
custo de alimentos nutritivos; combater a pobreza e as desigualdades
estruturais; fortalecer os ambientes alimentares e promover mudanças no comportamento
do consumidor para a promoção de hábitos alimentares com efeitos positivos na
saúde humana e no meio ambiente; além de investir na integração de políticas
humanitárias, de desenvolvimento e construção da paz em áreas afetadas por
conflitos. (ABr)
Segunda-feira,
12 de julho, 2021 ás 15:53