É
impossível não responsabilizar o governo pela tragédia da covid-19. A gestão
desastrosa não é só culpada por inúmeras mortes, mas também por a pandemia
ainda estar longe de acabar,
Mais
de meio milhão de brasileiros morreram de covid-19. É como se a população de
Florianópolis tivesse sido dizimada. Isso faz do Brasil um dos dez países com a
maior taxa de mortalidade do mundo, ou seja, o número de mortes em proporção ao
tamanho da população. E a mortandade ainda não terminou. Atualmente, uma média
de 2 mil pessoas são vítimas do vírus todos os dias. A sociedade brasileira se
habituou um pouco à morte e à violência: entre 40 mil e 50 mil pessoas são
assassinadas aqui todos os anos, e entre 30 mil e 40 mil morrem no trânsito.
Mas
meio milhão de mortes de covid-19 em apenas pouco mais de um ano deveria levar
à reflexão. Especialmente porque o verdadeiro número de mortos é provavelmente
maior do que isso. O Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME), sediado
em Seattle, acredita que existe uma significativa subnotificação de mortes por
covid-19 no Brasil. Os cientistas estimam que mais de 600 mil brasileiros podem
ter morrido do vírus.
Culpar
apenas o governo Jair Bolsonaro por isso seria simplista. Muitos brasileiros
aproveitaram todas as oportunidades para desafiar as regras pandêmicas mais
simples: o uso de máscara, o distanciamento social, evitar aglomerações,
especialmente em locais fechados. Festas eram recorrentes, assim como praias,
bares e restaurantes lotados.
Ao
mesmo tempo, é impossível não responsabilizar o governo pelo desastre no
Brasil. Com uma gestão pandêmica desastrosa, ele não é apenas culpado por
inúmeras mortes de covid-19, mas também pelo fato de que a pandemia
simplesmente não vai acabar.
É
importante lembrar, neste momento, o absurdo e desumano espetáculo que
Bolsonaro deu ao longo do curso da pandemia. Ele negou, xingou, semeou dúvidas,
sabotou. Ele chamou a covid-19 de "gripezinha"; instou as pessoas a
resistir às ações dos governadores; até hoje ele promove a hidroxicloroquina,
comprovadamente ineficaz contra a doença; repetidamente gerou aglomerações sem
usar máscara; recusou a entrega antecipada de vacinas; depois espalhou dúvidas
sobre a eficácia das vacinas; agora ele afirma que o número de mortes foi
inflado. Após 15 meses da pandemia, é difícil pensar em alguém que teria levado
o Brasil a um patamar pior.
É
claro que se pode discutir se a esquerda ou a direita tem melhores propostas de
soluções para os desafios do Brasil. O que é inquestionável é que o governo
deve ser liderado por alguém que leve o povo a sério e tente evitar danos a
ele. Mas a única coisa que Bolsonaro leva a sério é ele mesmo. A única coisa
que ele protege são os interesses de seu clã familiar. A pandemia, por outro
lado, ele não só não conseguiu conter – ele ativamente agiu para acelerá-la. É
por isso que é correto que uma CPI esteja atualmente lançando luz sobre o que
aconteceu dentro do governo. Já está claro que a gestão da pandemia por
Bolsonaro tem características criminosas. Rejeitou a perícia científica e
promoveu a ineficaz hidroxicloroquina, que pode causar graves efeitos
colaterais.
Quem
conhece o presidente sabe que ele não encontrará frases apropriadas sobre as
500 mil mortes por covid-19. Ele não vai achar uma única palavra sincera de
simpatia, arrependimento ou compaixão. Se falar, seu discurso provavelmente
servirá para propagar mentiras e meias verdades. Como a que ele levou a
pandemia a sério desde o início; ou que foi o seu governo que levou vacinas aos
brasileiros. Também é possível que Bolsonaro afirme que sempre queria manter a
economia brasileira funcionando. Mas, para isso, ele tinha que ter combatido a
pandemia, em vez de estendê-la sem parar.
Dizem
que é nas crises que se revela a verdadeira grandeza de uma pessoa ou de um
governo.
Mais
de sete em cada dez brasileiros conhecem agora alguém que morreu de covid-19.
Era impossível evitar que pessoas morressem do vírus. As condições econômicas e
sociais, especialmente dos pobres, eram propensas à propagação do vírus, e a
estrutura deficitária dos hospitais públicos fez aumentar a letalidade, ou
seja, o número de mortos em relação aos infectados.
Mas
o fato de meio milhão de pessoas já terem sido enterradas e de o Brasil não só
enfrentar uma possível terceira onda, mas também correr o risco de produzir
novas variantes do vírus, deve-se a um governo que não serve a ninguém, senão a
si mesmo.
*msn
Sábado,
19 de junho, 2021 ás 19:42