A
crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus (covid-19) prejudicou
mais os trabalhadores por conta própria, revela pesquisa divulgada quinta-feira
(8/4) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o
levantamento, essa categoria teve a maior queda no rendimento em 2020.
O
pior momento para os trabalhadores autônomos ocorreu no segundo trimestre de
2020, quando a categoria recebeu 24% a menos do que a renda habitual. No quarto
trimestre do ano passado, o indicador recuperou-se levemente, mas continuou
abaixo dos níveis anteriores à pandemia, com recuo de 10%.
Os
trabalhadores privados e sem carteira receberam 13% a menos do que a renda
habitual no segundo trimestre e 4% a menos no último trimestre do ano passado.
Os trabalhadores privados com carteira assinada não tiveram perda no segundo e
no terceiro trimestres de 2020 e encerraram o último trimestre do ano passado
ganhando 5% acima da renda habitual. No serviço público, os trabalhadores
receberam 1% a mais que a renda habitual no segundo trimestre, 3% no terceiro
trimestre e 5% a mais no último trimestre do ano passado.
Realizada
com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua), a pesquisa comparou a renda média efetiva com a renda média habitual.
Enquanto a renda média efetiva caiu por causa do aumento do desemprego e da
contratação com salários mais baixos, a renda média habitual subiu porque a
perda de ocupações se concentrou nas áreas mais mal remuneradas.
Segundo
o Ipea, a elevação da renda habitual para os trabalhadores privados com
carteira assinada e o serviço público deve-se ao fato de que a eliminação de
postos de trabalho atingiu principalmente os setores de construção, comércio e
alojamento e alimentação, além de empregados sem carteira assinada e
principalmente trabalhadores por conta própria. Dessa forma, quem permaneceu
empregado foram os trabalhadores de renda relativamente mais alta, que puxam o
rendimento médio habitual para cima.
Ao
analisar apenas a renda efetiva dos três últimos meses do ano passado, sem
levar em conta a comparação com a renda habitual, a pesquisa mostra que a queda
também foi maior entre os trabalhadores por conta própria. Essa categoria
encerrou 2020 ganhando 6,7% a menos que no mesmo período de 2019.
O
recuo chegou a 1,4% entre os trabalhadores privados com carteira e 0,2% no
setor público. Apenas os trabalhadores com carteira assinada recebiam, em
média, 1,4% a mais no último trimestre de 2020 em relação aos mesmos meses de
2019, refletindo a recuperação do emprego formal no fim do ano passado.
Para
Sandro Sacchet, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e autor do estudo, o
fato de ter havido queda nos rendimentos efetivos em alguns grupos de
trabalhadores no quarto trimestre indica potenciais efeitos do início da
segunda onda da pandemia da covid-19. Segundo ele, os impactos poderão ser
compreendidos quando forem divulgados os dados no primeiro trimestre de 2021.
Na
comparação por faixa de renda, a pesquisa mostra que a pandemia afetou
proporcionalmente os mais pobres. Entre o primeiro e o segundo trimestres de
2020, o total de domicílios sem renda do trabalho aumentou de 25% para 31,5%.
No quarto trimestre, a proporção chegou a 29%, mostrando uma recuperação lenta
do nível de ocupação.
Em
relação à quantidade de horas habitualmente trabalhadas, o levantamento mostra
que a pandemia não afetou significativamente o indicador. No segundo trimestre,
o total de horas trabalhadas caiu para 30,7 horas semanais, recuperando-se para
36,2 horas semanais no terceiro trimestre e encerrando o quarto trimestre em
37,4 horas semanais, com queda de apenas 5% em relação ao último trimestre de
2019. (ABr)
Quinta-feira,08
de abril, 2021 ás 16:58