Até o dia 22 de junho, a cidade de São Paulo
já havia registrado mais de três vezes o número de casos de dengue computados
no ano passado inteiro. O aumento foi de 219% -de 2.009 em 2020 para 6.408 no
que vai deste ano. As últimas mortes em decorrência da doença foram registradas
em 2019 (3) e 2016 (8).
A
capital soma ainda 57 casos de chikungunya em 2021, mas não há mortes. Do
total, 28 estão no distrito administrativo de Campo Limpo (zona sul). Em
relação à doença aguda pelo zika vírus, o último ano com registro da doença na
capital foi 2017 (3).
Apesar
de não comentar os números, a Secretaria Municipal da Saúde atribui a alta nos
casos de dengue em 2021 a fatores como a sazonalidade da doença --há anos com
mais e outros com menos casos-- e a quantidade de pessoas suscetíveis ao tipo
viral em circulação na cidade neste momento --neste ano prevalecem os tipos 1 e
2--, além de questões de temperatura e a disponibilidade de criadouros do
mosquito Aedes aegypti, transmissor das arboviroses dengue, zika, chikungunya e
febre amarela.
"Logo
após 2015, em que tivemos mais de 100 mil casos, passamos por anos com
pouquíssimos casos. Isso se dá porque teve muita gente infectada, as pessoas
ficaram protegidas daquele tipo viral em circulação e depois, com o tempo, há
mais pessoas suscetíveis e você começa a ter aumento de casos de novo",
explica Alessandro Giangola, biólogo da Divisão de Vigilância em Zoonoses,
ligada à Secretaria Municipal da Saúde.
"Apesar
de ter mais casos que o ano passado, e a gente precisa ir atrás disso, para a
cidade de São Paulo ainda é um número baixo", completa.
Segundo
ele, o pior já passou na cidade de São Paulo. O pico da dengue é em abril, e no
inverno há uma tendência de queda. Em janeiro, com mais chuvas e temperaturas
altas, os casos da doença começam a subir.
"Por
isso, as ações de controle deverão ser mantidas o ano todo. Os agentes estão
fazendo as visitas, os bloqueios, as nebulizações --com equipamento costal e
veicular--todo dia. As ações não foram interrompidas nem com a Covid-19",
afirma Giangola.
Os
distritos administrativos com mais ocorrências de dengue estão na zona norte da
capital: Cachoeirinha (366) e Brasilândia (286). Em seguida, aparecem Cidade
Tiradentes (244), Jardim São Luiz (273), Capão Redondo (201) e Cidade Líder
(244).
"São
situações pontuais que ocorrem nestes locais, que você terá mais casos. Não
ocorrem uniformemente na cidade. É necessário ir até o local, verificar qual o
problema, e nem sempre você acha, e intervir para eliminar o problema."
"Estive
num bairro na Cachoeirinha, num local onde tínhamos problema com um córrego.
Foi acionada a subprefeitura para limpar o local. Fizemos aplicação de
larvicida e um trabalho de contenção. Não quero minimizar o problema, mas foi
uma situação pontual. Quando você tem suscetíveis num bairro, condições
ambientais não favoráveis, terá um crescimento muito rápido. A nossa resposta,
por mais rápida que seja, surte efeito dali a duas, três semanas e já tem caso
incubando que não conseguimos evitar", afirmou o biológo.
No
início deste ano, a Secretaria Municipal da Saúde identificou um aumento de 30%
no número de recusas de visitas dos agentes de zoonoses por parte dos moradores
da capital devido ao medo de transmissão da Covid-19.
Também
até 22 de junho, o estado de São Paulo registrou 109.600 casos de dengue e 30
óbitos. Em todo o ano de 2020, foram 194.415 mil confirmações da doença e 142
mortes.
As
cidades com os índices mais altos até o momento são Tatuí (18.900), São José do
Rio Preto (13.200), São Paulo (6.408), Piracicaba (4.600) e Santos (3.200),
segundo a Secretaria Estadual da Saúde.
Com
relação à chikungunya, são 7.600 casos e três mortes neste ano. Em 2020, houve
254 casos e nenhum óbito. Quanto à zika, houve três casos até maio deste ano e
12 no ano passado, ambos sem óbitos.
Para
Adriano Massuda, médico sanitarista e professor do FGVSaúde, o Brasil já teve
sucesso no controle de doenças como a dengue graças ao trabalho das equipes de
atenção básica, da ESF (Estratégia Saúde da Família), em especial dos agentes
comunitários da saúde, junto com a atenção básica e a ação da vigilância
epidemiológica.
Nos
territórios onde há ação das equipes de ESF, os agentes comunitários de saúde
auxiliam no combate ao mosquito Aedes aegypti.
"De
forma geral, isso funcionou bem até 2015 para controlar a epidemia. De 2016 em
diante, houve um enfraquecimento do SUS e a atenção básica perdeu força. Ainda
que se mantivesse o número de equipes [de ESF], houve queda na quantidade de
agentes comunitários de saúde, por exemplo", afirma massuda.
O
especialista observa que a pandemia esta situação se agravou, pois não houve
orientação nacional do Ministério da Saúde para as equipes trabalharem no
contexto da Covid-19, seja no território, para identificar situações de
vulnerabilidade por conta da pandemia ou para cuidar de outras doenças que não
deixaram de existir.
"De
2016 para cá tivemos uma perda do papel do Ministério da Saúde, mas as áreas
técnicas ainda estavam lá. A gestão Pazuello foi um desastre. De maneira geral,
o ministério foi bastante desestruturado, os municípios ficaram sem referência
e a situação ficou descontrolada. O país está mais vulnerável não só em relação
a dengue, mas também a outras doenças transmissíveis", afirma Massunda.
(FOLHAPRESS)
Terça-feira,
29 de junho, 2021 ás 19:39