Uma
campanha nas redes sociais, promovida pela Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM), vai esclarecer à população e à classe
médica a importância da divulgação de informação segura sobre as doenças raras,
cujo Dia Mundial é comemorado no último dia do mês de fevereiro que, este ano,
cai domingo (28/02). Para fazer uma analogia, os especialistas afirmam que a
data é comemorada no último dia do mês de fevereiro, que é “um mês raro e
quando é bissexto, é um dia raro”.
Doenças
raras são doenças que acometem um número muito pequeno da população global. De
acordo com a Organização Mundial da Saúde, para ser caracterizada como doença
rara, ela afeta 1,3 pessoa para cada 2 mil indivíduos. “Na verdade, são 65
pessoas a cada 100 mil habitantes, que dá mais ou menos 1,3 por 2 mil”, disse à
Agência Brasil a endocrinologista Mariana Guerra, presidente da Comissão de
Campanhas da SBEM.
A
médica informou que existe em torno de 6 mil a 8 mil tipos de doenças descritas
como raras na literatura, que estão presentes em várias especialidades médicas.
A maioria delas aparece na infância e 80% são genéticas. Alguns exames são
fundamentais para detectar a possibilidade de desenvolvimento de uma doença
rara. Mariana Guerra destacou, nesse item, o teste do pezinho, realizado em
bebês. Em sua modalidade básica, ele consegue identificar seis doenças,
enquanto o teste do pezinho ampliado pode levar ao diagnóstico precoce de 45
doenças. “É muito pouco, mas já é o primeiro passo”, comentou a médica. Indicou
também o ultrassom para percepção de alguma anormalidade que leve a uma
investigação mais aprofundada. Outro fator que deve ser considerado são as
doenças familiares.
Exemplos
No
ramo da endocrinologia, por exemplo, uma doença rara é o hipotireoidismo
congênito (alteração metabólica em que a tireoide do bebê não é capaz de
produzir as quantidades adequadas dos hormônios tireoidianos, o T3 e o T4,
podendo comprometer o desenvolvimento da criança e provocar alterações
neurológicas permanentes caso não seja devidamente identificada e tratada).
Outro exemplo de doença rara é a acromegalia, que faz crescer as mãos, os pés,
o nariz, a mandíbula; a doença de Cushing, em que a pessoa desenvolve um tumor
que produz muito corticóide e isso gera excesso de peso, alteração de glicose e
de pressão, entre outras consequências.
Em
outros ramos da medicina também ocorrem doenças raras, como hemofilia
(distúrbio em que o sangue não coagula normalmente), displasia cleidocraniana
(causa alterações de desenvolvimento nas clavículas, nos ossos do crânio e
outros do corpo, da face e nos dentes), fibrose cística (doença genética que
compromete o funcionamento das glândulas exócrinas que produzem muco, suor ou
enzimas pancreáticas), esclerose lateral amiotrófica (doença neurodegenerativa progressiva,
que afeta o sistema nervoso e acarreta paralisia motora progressiva,
irreversível, de maneira limitante, embora sem atingir o cérebro). O físico
inglês Stephen Hawking era portador dessa última doença. Ele morreu no dia 14
de março de 2018.
Atenção
redobrada
No
mundo, existem cerca de 300 milhões de pessoas que são caracterizadas pelas
doenças raras. Em geral elas são crônicas, progressivas e incapacitantes,
afetando a qualidade de vida e podendo ser degenerativas e também levar à
morte. Mariana Guerra afirmou que os médicos precisam estar atentos em suas
diversas especialidades e os pacientes necessitam entender que alguns exames
são fundamentais para se conseguir um diagnóstico precoce.
A
presidente da Comissão de Campanhas da SBEM confirmou que os sintomas de
algumas doenças raras podem ser confundidos com os de algumas doenças comuns. O
paciente com doença de Cushing (provocada pela alta concentração no corpo de
hormônio cortisol, conhecido também como o hormônio do estresse), por exemplo, pode
chegar no consultório do endrocrinologista com obesidade ou com diabete
descompensada; ou no cardiologista, com hipertensão. “A gente precisa ter um
olhar atento ao paciente para poder perceber as nuances, colher uma história
adequada, fazer um exame físico bem feito para poder pensar na doença que é
mais rara. Claro que eu tenho sempre que pensar que as chamadas doenças comuns
são mais prevalentes, mas tenho que ter o olhar atento ao paciente para não
deixar de dar o diagnóstico de uma doença que seja mais rara”, ressaltou a
médica.
No
ano de 2014, foi instituída a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas
com Doenças Raras. No Brasil, existem 240 serviços no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS) que oferecem atendimento, diagnóstico e assistência a pessoas
com doenças raras. Com esses centros, Mariana Guerra observou que os pacientes
com doenças raras são melhor atendidos, diminui-se o risco de eles terem alguma
sequela que leve à dependência de outras pessoas ao longo da vida e, também,
onera menos a folha do governo, porque se reduz a judicialização da saúde.
Pandemia
A
presidente da Comissão de Campanhas da SBEM destacou que, com a pandemia do
novo coronavírus, tudo ficou mais difícil para as pessoas com doenças raras.
“Muitos centros fecharam, as pessoas com medo da covid-19 deixaram de buscar
atendimento em outros locais e, talvez, tenham perdido tempo de diagnóstico”.
Assegurou a necessidade de se retomar o tratamento.
No
Brasil, a estimativa é que 15 milhões de pessoas tenham doenças raras. A
presidente da Associação Brasileira de Paramiloidose (ABPAR), Liana Ferronato,
citou que a amiloidose hereditária, chamada também de paramiloidose ou
polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), é uma dessas doenças. Sem cura,
genética e hereditária, a síndrome provoca a perda progressiva dos movimentos,
atrofia muscular e insuficiência cardíaca.
"Um
dos grandes problemas enfrentados pelos pacientes é o diagnóstico tardio. A
gente sabe que, de modo geral, quanto mais tempo se perde para descobrir uma
doença, mais grave ela se torna. Nas enfermidades raras isso não é diferente e,
justamente por serem síndromes raras, é infelizmente comum que o diagnóstico
demore, muitas vezes, por anos a fio, acarretando o agravamento dos sintomas e
trazendo sequelas irreversíveis", afirmou Liana.
O
Dia Mundial da Doenças Raras foi criado em 2008 pela Organização Europeia de Doenças
Raras. A data é lembrada em mais de 60 países. (ABr)
Domingo,
28 de fevereiro, 2021 ás 11:47