Sergio Moro (Podemos-19)
As reportagens políticas deste fim de semana apontam, por sua intensidade, que Sergio Moro decolou e passou a ocupar a terceira via, estrada pela qual desejam passar os que rejeitam a polarização entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, com ampla vantagem para o primeiro de acordo com o último levantamento do Datafolha.
A entrevista do general Santos Cruz no último sábado, sem dúvida atribuiu mais velocidade à subida de Moro, cujo maior erro de sua vida, como acentuou Élio Gaspari nas edições de ontem no O Globo e na Folha de S. Paulo, foi aceitar ser ministro da Justiça do atual governo. Uma contradição, entre outras, focalizada por Gaspari. Mas a política é feita também de contradições. Aliás, não só a política brasileira, mas a que se pratica em todos os países democráticos.
Sergio Moro avalizou Bolsonaro junto à opinião pública, transferindo-lhe parte da imagem alcançada por suas posições contra a corrupção. Pois, na verdade, com ele, pela primeira vez na história do Brasil, ladrão de casaca foi para a cadeia. O Supremo Tribunal Federal anulou as sentenças que Moro aplicou a Lula, viabilizando a candidatura do ex-presidente contra o presidente que participou de manifestações na Esplanada de Brasília defendendo o fechamento da própria Corte Suprema e a implantação de ditadura militar com Bolsonaro como imperador.
O STF, na minha opinião, se defendeu de uma reeleição e, com isso, defendeu também o Congresso e quase toda a população brasileira que rejeita a extrema-direita no poder. Mas essa é uma outra questão.
Sergio Moro alvejou bem o campo adversário. Não atira contra Lula e concentra as suas baterias contra Bolsonaro. Moro faz o que Ciro Gomes poderia ter feito, mas não fez, magoado que ficou com a falta de apoio de Lula a seu nome nas urnas de 2018. Atacar Lula não é uma boa estratégia porque dificilmente o terceiro candidato poderá arrebatar votos favoráveis ao líder petista.
Também na Folha de S. Paulo, edição de ontem, Joelmir Tavares focaliza o tema da terceira via e conclui que a aterrissagem de Sergio Moro no páreo balançou o quadro sucessório e também enfraqueceu outros candidatos em potencial, principalmente, a meu ver, Ciro Gomes. Conforme já escrevi e repito agora, o foco na anticorrupção é um tema que motiva muito mais a classe média e os segmentos de renda alta do que os grupos sociais de renda baixa.
Como o próprio IBGE já assinalou, um quarto da população brasileira encontra dificuldades enormes em poder se alimentar. O Produto Interno Bruto caiu, a população aumentou, a produção industrial já registra cinco quedas mensais este ano e os salários estão congelados.
O tema do congelamento salarial, uma crueldade do ministro Paulo Guedes aceita pelo presidente Jair Bolsonaro, será sem dúvida alguma, uma das grandes bandeiras da campanha eleitoral. Não é preciso recorrer a marqueteiros, especialistas em publicidade, para chegar a esta conclusão: não é possível uma sociedade viver com os preços subindo, como está acontecendo, e os salários dos servidores públicos e dos trabalhadores regidos pela CLT descendo, na medida em que não acompanham a inflação que deverá fechar este ano, segundo o IBGE, em 10,7%.
A taxa Selic deve subir mais 1,5% este mês, percentual que incide sobre R$ 6 trilhões. Assim, a dívida com uma simples decisão do Banco Central vai crescer R$ 90 bilhões. A taxa Selic não pode perder para o índice inflacionário, pois nesse caso estaria colidindo com os interesses dos bancos, dos fundos de pensão das estatais, dos fundos de investimento, principalmente os operados pelo Itaú e pelo Bradesco.
O governo Bolsonaro só tem um argumento para a sua campanha no rumo das urnas: o Auxílio Brasil e, ao mesmo tempo, obtém o efeito contrário pelos titulares dos precatórios que se encontram na fila há trinta anos para receber os seus direitos.
Direitos que decorrem do não cumprimento das leis do país das proteções propositais, tanto movidas pelo Palácio do Planalto e não apenas pelo governo Bolsonaro, mas acentuadas por este ao recorrer a um nítido calote. Mais um contra os valores do trabalho humano.
Sem salário, absolutamente nada poderá ser resolvido no Brasil. Pelo contrário, desemprego e derrota para a inflação incentivam a miséria e a pobreza. É possível votar contra os salários e a favor de seu congelamento. Os eleitores têm a resposta.
* Tribuna da Internet
Segunda-feira, 6 de dezembro de 2021 às 10:40