“Boa
tarde a todos, é um prazer vê-los aqui. Uma rápida apresentação: sou Sergio
Moro, trabalhei como juiz bastante tempo no Brasil, essa é uma história
conhecida”, disse o ex-ministro da Justiça na abertura de um webinário na
última quinta-feira (30), arrancando risos dos participantes.
O
evento reuniu cerca de 30 pessoas, a maioria advogados, e teve como um dos
organizadores a empresa Alvarez & Marsal, especializada em compliance, que
contratou Moro no ano passado como consultor.
À
vontade durante o webinário, que tinha como tema a nova Lei de Licitações, Moro
parecia relaxado, embora a plateia fosse composta por muitos advogados, classe
com quem ele antagonizou durante os anos de Lava Jato.
Num
bate-papo informal antes de o evento começar, teorizou sobre as diferenças
entre o criminoso comum e o de colarinho branco.
“Em
geral o de colarinho branco não se sente um criminoso. É comum você ouvir ele
dizer ‘olha, outros fazem também’. O ladrão de banco nunca tenta justificar seu
ato dizendo que outros fazem também. ”
O
webinário foi um dos muitos compromissos profissionais e políticos do ex-juiz
numa estadia de quase duas semanas no Brasil, cujo efeito prático foi ré
energizar uma base de apoiadores que andava meio dormente. Moro atualmente vive
em Washington (EUA), sede da empresa que o emprega
Em
23 e 24 de setembro, fãs de Moro fizeram um tuitaço com a hashtag
##vemMoro2022, que chegou a ficar entre as mais comentadas na rede social.
Fora
da bolha das redes sociais, iniciativas apelando ao ex-juiz para que entre na corrida
presidencial também tem surgido. Na última quinta, um grupo denominado Médicos
com Sergio Moro, surgido há cerca de três meses, mandou instalar um outdoor
numa das entradas de Maringá (PR), cidade natal do ex-juiz.
“Bem-vindos à terra de Sergio Moro! Orgulho de
Maringá e esperança do Brasil”, diz o cartaz, ao lado de uma foto do
ex-ministro sorridente.
“Acreditamos
que Sergio Moro é o único nome que possui potencial eleitoral para vencer a
polarização Lula e Bolsonaro”, diz o anestesiologista André, 44, que foi um dos
responsáveis pela ação e pediu para seu sobrenome não ser publicado. O grupo,
com cerca de 200 profissionais, planeja colocar outros outdoors, além de ter
feito adesivos e camisetas com o mesmo mote.
“O
Moro candidato irá no mínimo enriquecer o debate e dar uma opção viável a
milhões de brasileiros, que assim como nós não gostariam de precisar escolher
alguém de extrema direita ou extrema esquerda”, afirma o médico, que diz ser
apenas um admirador do ex-juiz, sem nunca ter tido contato direto com ele.
A
agenda política de Moro no Brasil incluiu uma conversa com caciques do Podemos,
hoje a opção mais provável de filiação para o ex-juiz. O partido ofereceu legenda
a ele para disputar a Presidência, mas o contrato com a Alvarez & Marsal,
que a princípio vence no final do ano, impede uma definição agora.
Moro
também contatou alguns dos principais expoentes da chamada terceira via. Na
quarta-feira (29), jantou no Palácio dos Bandeirantes com o governador João
Doria (PSDB) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Conversou
ainda com o empresário João Amoedo, fundador do Novo, e teve um encontro com
líderes do MBL (Movimento Brasil Livre).
“Foi
uma conversa de cinco minutos, só para dar um oi mesmo”, diz Adelaide Oliveira,
uma das integrantes da coordenação do movimento, que é simpático ao ex-juiz.
“Um dia quero ter uma conversa muito longa com Moro como presidente. Sempre fui
ativista pela Lava Jato, admiro demais ele”, afirma.
Segundo
Adelaide Oliveira, no encontro Moro não deu nenhuma pista do rumo político que
tomará. “O pessoal está pedindo pelo amor de Deus para ele se candidatar, tem
muito grupo surgindo de apoio. Mas ele é uma ostra”, diz.
Além
do podemos, o ex-juiz já teve no passado convites de ao menos três outros
partidos para se filiar e disputar a Presidência: Novo, PSL e Patriota.
Todas
essas opções perderam força, no entanto, por motivos específicos: no caso do
Novo, pesa o racha interno vivido pela sigla, entre alas que se opõem a
Bolsonaro e outras mais palatáveis ao presidente.
A
opção pelo PSL também definhou em razão da esperada fusão do partido com o DEM.
A nova legenda cogita lançar Mandetta ou o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (DEM-MG), para o Planalto.
Já
o Patriota filiou o senador Flávio Bolsonaro (RJ), que teria de sair do partido
para o ex-juiz, inimigo declarado de seu pai, poder entrar. Uma alternativa que
cresce é Moro filiar-se ao Podemos até a data-limite, no início de abril, e
deixar a decisão sobre concorrer à Presidência para a época das convenções
partidárias, que devem ocorrer entre julho e agosto de 2022.
Pessoas
próximas a Moro dizem ter percebido uma tentativa dele de ser menos protocolar
em contatos políticos e sociais. Moro demonstra também mais interesse em temas
econômicos, e tem feito lives com empresários nos últimos meses. Mas ainda não
definiu quem seria seu porta-voz econômico, até porque não se decidiu sobre a
candidatura presidencial.
Um
ponto que tem feito questão de reforçar é que não se anima a disputar outros
cargos, como o de senador pelo Paraná.
Caso
não tente o Palácio do Planalto, ele afirma que prefere ser um cabo eleitoral
de peso na eleição de 2022, apoiando um nome da terceira via.
Em
pesquisa Datafolha divulgada em maio, Moro apareceu com 7%, empatado
tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), com 6%.
Aquele
momento, no entanto, marcou uma espécie de inferno astral para o ex-juiz, em
meio à anulação da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
pelo STF e à declaração de suspeição de Moro na condução da Lava Jato. O nome
do ex-juiz não chegou a ser incluído pelo instituto nos últimos levantamentos.
O
cenário agora é outro, dizem pessoas que estiveram com o ex-ministro
recentemente. O derretimento de Bolsonaro abre um flanco no eleitorado
antipetista, que pode ser encarnado por Moro.
Como
diz um amigo do ex-juiz, a própria presença dele na campanha serviria para
relembrar ao eleitorado as acusações que envolveram Lula, embora o petista
tenha a seu favor diversas vitórias judiciais contra a Lava Jato.
*Folha
Domingo,
03 de outubro, 2021 ás 17:56